Boa noite, tarde ou dia. (Sim, boa dia.)
É com grande prazer que descreverei mais um dia fatídico. E com fatídico eu quero dizer horrível.
Você sabe como são partidos políticos, ou pelo menos deveria saber. Cheio de pilantras e sacanas que se dizem “vindos do povo” e que vão dar um jeito nessa bagunça toda. Falando mal da oposição, falando mal do próprio governo e falando mal do FMI, menos falando mal dos eleitores, porque claro, eles precisam de votos (sim, estou falando do PT agora).
Mas tudo o que eu escrevi acima você já sabe. O que você provavelmente não sabe AINDA é que eles estão apelando para jovens de 16 anos que gostam de funk, cine ou de funk e cine, se é que é possível existir algo tão abominável na sociedade em que vivemos.
Você se for paulista já deve ter ouvido falar da UMES (União Municipal dos Estudantes petistas Secundaristas), sim a boa e velha “instituição” que faz nossas queridas carteirinhas dos estudantes. Carteirinha a qual nos dá meio passe no ônibus, metrô, puteiro, o que for que seja e mais um pouco. Quando eu sabia só disso da UMES eu gostava deles, mesmo. Então um dia as coisas começaram a mudar.
–Cara, se você gosta dos comunistas você deve morrer, cara, eles são uns putos.
–UHAUH, calma Fran, eles não são meus melhores amigos, mas calma.
–Não, Eduardo, eles devem se foder com força. Eles querem uma nova ditadura socialista nessa porra. OLHA A BOLÍVIA.
Papo comum antes de entrar na escola. Papo vai e papo vem, nós falávamos de como o socialismo é impossível de existir. Até um cara que estava sentado do lado da parede levanta e começa a discursar:
–Ai gente, eu não queria me intrometer, mas cêis tão aí falando de política e eu tinha que falar algo. É que eu sou da UMES e eu vim fazer um debate aqui na escola de vocês, eu já fiz de manhã e de tarde, agora eu vou fazer com o noturno.
Foi aí que deveríamos ter ido embora, mas não. Ficamos e caímos na dele. Troll.
Ela discursou sobre a UMES e falou sobre uma conferência que fariam com vários alunos de diversas escolas. Cobrariam políticos e debateriam soluções. Convocou-nos a ir lá também. Iriamos na quinta e na sexta.
Após alguns acontecimentos na escola e uma reunião com os representantes das salas (reunião a qual eu não deveria participar por não ser representante) ficou decidido que eu iria na quinta.
Na quinta-feira iria ter um ônibus às 17h que nos levaria. Na sexta-feira teria um ônibus às 7h que nos levaria de novo. Eu iria somente na quinta.
Quinta-feira
–Alô, Eduardo? Então, não vai ter ônibus hoje na sua escola, só se você for até o Buenos Aires pegar o ônibus aqui.
Eu já deveria ter previsto.
Eis que ocorreu, não fui na quinta-feira como combinado. Também não iria na sexta, porque puta que pariu, não tava afim de acordar cedo. Porém meu grande amigo filho da puta Fram, André, Moleiroo, companheiro de blog me pediu (obrigou) a ir. Ele não gosta de socialistas.
Já em casa após a aula fui dormir, digo, fui tentar dormir, porque por alguma obra do além eu não consegui dormir. Deitava, apagava as luzes, nada. Tomava leite com açúcar quente, nada. OUVIA BOB MARLEY LOUCAMENTE, nada. Nisso já eram 6:30.
Sexta-feira
Arrumei-me para ir, ainda não havia nascido o Sol. Tudo bem, eu não tinha dormido. Tudo me abalava. Mas tudo bem, eu teria um ônibus para dormir.
Chegado na escola encontrei o pessoal que estudava comigo no ano passado, chamei eles para irem e não me deixarem só. Fracasso. Mesma desculpa de provas.
O ônibus estava atrasado, o pessoal esperando do lado de fora da escola e eu sem dormir. Linda cena. Dava mais tempo para eu bater papo com o pessoal que não ia. E os sinais que o dia não seria bom aumentavam.
Ônibus chegou.
Fomos todos felizes e alegres para nosso destino. Eu ouvindo meus grandes companheiros, fones de ouvido (Chuck Norris salve vocês), o Fran conversando com outra amiga.
Chegamos.
Atravessamos a rua, todas as negadas indo em direção ao prédio, mais espera e outro sinal sobre o dia que já raiava. Eu vi um “cara” que usava uma crocs roxa (QUEM USA CROCS CARA?) sem meias, calça jeans, uma jaqueta marrom, um cabelinho emo com um boné e uma plaquinha escrito “MSN?”. Eu não sou de xingar diretamente, geralmente prefiro ser sarcástico, mas PUTA QUE PARIU VOCÊ. QUE SER VINDO DO SUBMUNDO É ESTE? ESSE TIPO DE PESSOA DEVIA SER ESTUPRADA PELO BORIS CASOY.
Sem mais.
Fomos para a maldita conferência, sentamos. Esperávamos e esperávamos o início enquanto os fãs de Restart adentravam a o local. Um local o qual deveria ser debatido política. Belo o futuro do SEU país, não? Sentamos mais à frente e começava a lotar de gente.
De repente aparecem mais UMES fags, aparece a Marta Suplicy. De repente todos estão gritando “PETÊ”. Essa era a hora de se sentir envergonhado.
Sinceramente eu fiquei muito puto. Eu realmente pensava que nós iríamos debater, pelo menos um pouco, e não assistir a propaganda política. Como eu escrevi no começo do texto, tudo me abalava, malditos.
A UMES fag leader então convocou todos a ficarem de pé em respeito a o Hino Nacional. Eu como bom cidadão levantei-me e levei a mão a o peito. Eis que quase no final do Hino a Fag Leader começou a fazer a “hurra” com a mão, socando o ar. TODOS OS IDIOTAS NAQUELA SALA FIZERAM O MESMO. Eu mantive a compostura e não me movi.
A o final do hino todos os macacos mal treinados começaram a gritar, bater palmas e gritar “MARTA”. Eu me senti como se eu fosse posto com uma camiseta verde no centro de treinamento do Corinthians na apresentação do Ronaldo. Eu tava na merda.
Após um discurso xoxo da Marta cheio de pérolas como “São Paulo TEM que ser o trem bala do Brasil” e “Vamos ligar Rio a São Paulo” enquanto eu pensava “SIM, VAMOS DAR MAIS ARMAS A OS TRAFICANTES TAMBÉM! PRA QUÊ MELHORAR A INFRAESTRUTURA BÁSICA DE UMA CIDADE EM DECADÊNCIA SE A GENTE PODE GASTAR UNS MILHÕES NUM TREM BUNITINHO?” e Fag leader se pôs a falar, novamente.
Ela falava sobre um debate que ocorreria nos outros andares. Todos divididos por temas como educação, cultura, desvio de verba, digo, aplicação de verba e tal. Então meu colegas me fizeram ir a o da educação.
Chegado à sala de “debate” a Fag Leader falou mais sobre como as coisas são ruins para os coitadinhos dos estudantes que se dedicam tanto a os estudos, porque coitadinho deles, eles são tão comportadinhos, não é? E sempre a mesma ladainha de “Ah, o Serra é um puto porque ele fala que colocou computador nas escolas mas ninguém usa, não tem laboratório de química, não tem salário pra professor”, coisas que todos já sabemos que estão aí, e ficar “debatendo” os que todos já sabemos não faz ninguém sair do lugar.
Depois um “professor” teve a palavra. Ele nos chamou de companheiro mais vezes do que eu implorei para ele parar de falar. Conclusão/resumo/o que quer que seja do que eles disseram: O PT É LEGAL.
Após toda a baboseira foi oferecido a nós, os estudantes os quais eles defendiam, três minutos INTEIROS para falarmos sobre o assunto. Muito generoso o pessoal da UMES, gostei bagrai. Não é todo dia que você ouve pro 2 horas seguidas a ponto de você querer furar seus ouvidos e depois tem 3 minutos para expor suas ideias.
Passamos nossos cracházinhos a frente para sermos chamados pelo nome.
Antes de mim falaram três pessoas, todas com a mesma coisa de “Ah, é mesmo, não tem laboratório na minha escola e a UMES é legal”. Eles não faziam ideia do que era a UMES antes do café da manhã, só pra deixar claro.
Na minha vez fui bem direto e disse mais ou menos isso, espero que meus colegas que lá estavam me corrijam se eu estiver errado:
–Olá, meu nome é Luis Eduardo, eu estudo no Albino Cesar. Todo mundo aí falando um monte de coisa, mas na verdade tá todo mundo na merda aqui. Olha, ninguém se importa com vocês ou com o que vocês querem, vocês estão sozinhos. Nosso país foi fundado não para crescer economicamente nem socialmente, mas só pra quem tá no poder crescer a conta bancária. É isso pessoal, ninguém se importa com vocês.
–Só a UMES! – disse um cara da bancada, que detinha o poder dos microfones.
–A UMES nada, isso aqui tá parecendo igreja católica.
Deixei o microfone e fui a o meu lugar. Claro que eu poderia citar livros políticos como 1984 ou criticar a esquerda e a direita ao mesmo tempo. Claro que eu poderia ter explicado como funciona o capitalismo, mas o que eles mais precisavam no momento era de um pouco de desilusão. Mesmo porque muitos ali votariam pela primeira vez, e porra, eu não quero ver um monte de petistazinhos que não conhecem o que seguem, eles já tem a religião pra isso. O pior é que quando eu fui sentar ainda me perguntaram se eu era evangélico por falar mal da Igreja Católica. Pelo menos eu tive meia dúzia de aplausos.
Logo após a mim, minha amiga foi falar. O que me deixou realmente puto foram as vaias somente por ela questionar o que realmente era a UMES em sua primeira frase. Juro que soltei um bom e velho “Vão toma no cu aê, deixem ela falar”. E ele brandiu o microfone e questionou desde camisetas até slogans. Entre vaias e aplausos ela foi se sentar.
Por ironia, parece que havia nascido uma nova classe de pessoas naquela sala, as pessoas anti o que ocorreu lá hoje. Diferente do que eu pensava, muitas pessoas estavam putas com o dia, mas só foram à tona quando souberam que existiam outras pessoas putas. Eu só fiquei com medo de que isso virasse o que a era conferência, mais pessoas que só acham e ponto, não pessoas que realmente entendem.
Então quem teve a palavra foi mais um apoiador da UMES. Ele falou mais uma vez sobre “ah, não tem isso, nem aquilo, to puta revolts”, mas fechou com “E quem achou ruim vai pra casa estudar, não fica aqui criticando”. Esta foi minha deixa, me levantei dizendo “Já que é assim” e saí da sala.
Saímos, eu e o Fran. Do lado de fora adivinhe quem foi falar com a gente? O nosso troll do início da história. Neste ponto eu já não estava a fim de discutir mais, pois eu sabia que por mais que eu falasse nada iria mudar o que eu sentia. O sentimento de ser trollado.
Ele ainda quis pedir pra eu respeitar o pessoal, pois a minha escola era melhor que a deles e que tinha um buraco na escola do outro. Eu ouvi, nisso o Fran não aguentou e foi embora, esperei minha outra amiga. Disse que não concordava com tudo o que foi dito, mas que respeitava. E respeito mesmo, mas não admito o que ocorreu lá.
Quando minha outra amiga chegou fomos embora, o certo é que nós deveríamos esperar o ônibus partir, mas não, simplesmente fomos andando. Saindo do prédio que foi um lugar horrível, reencontramos o Fran, ele tinha comprado um risole, o que viria ser a primeira coisa que eu comera no dia. Resolvemos sair por aí como jovens sem rumo.
Decidindo o que fazer, sugeri que fossemos até o Center Norte (ou centro nordestino), já que estávamos perto, então fomos. Ficamos um tempo lá e eu querendo saber quanto tinha sido o jogo da Holanda. O Fran comprou um Milk Shake!
Neste ponto o sono começava a pesar, passamos numa grande loja de materiais esportivos depois seguimos caminhada para casa. Casa a qual estava a alguns quilômetros de distância, mas tudo bem.
Caminhando pela conhecida Avenida Luiz Dumont Villares, ou Avenida Nova para os leigos, avistamos o SESC. Decidimos entrar, mesmo porque lá tinha uma TV bem grande com muitos lugares para sentar. Subimos as rampas e fomos a o terceiro andar. Lá existia um local bem legal com quadrinhos para o pessoal ler, além de um tapete de alcaçuz. Não que o tapete fosse realmente de alcaçuz, mas era pela cor. Lá eu deitei, lá eu dormi, pelo menos até o segurança dizer que não podia deitar no tapete, mas pelo menos ele foi bem educado.
Após isso fomos embora, visávamos passar perto da escola e comprar algo para comer, fomos numa padaria bem perto e o meu dia só melhorava, eu já estava com sono, sede e fome, mas agora meus amigos. Agora eu estava sem energia elétrica, digo, o estabelecimento estava.
Fomos até uma vendinha onde eu comprei um chocolate, o Fran comprou coca-cola e minha amiga comprou chá gelado. Fomos até a frente da escola, sentamos, comemos, aparece um dos “dirigentes” da escola e nos pergunta como foi a tal conferência. Respondemos com um “foi uma merda”. Depois disso ele deu um jeito de transformar a conversa numa espécie de “Judeus são legais”. Não demos muita bola e ele se foi.
Decidi ir pra casa, ainda faltava um quilômetro de caminhada, nada que eu não pudesse concluir. Caminhei, ouvi meus fones de ouvido, vi o terreno onde será construído o novo condomínio e cheguei.
Em casa eu deveria me arrumar para voltar à escola, desta vez para a aula. Sem chance, me deitei um tempo no sofá, cochilei até meu pai me acordar me chamando para ir comer pizza, fomos até a pizzaria.
Lá esperei longos minutos para poder comer, mas tudo bem, eu sou conformado com a vida, heh. Comi minha pizza como quem nunca tivesse comido uma na vida. Após isso voltei pra casa pensando em dormir.
Em casa decidi tocar meu violão. Acordes soltos, músicas incompletas, lá estava eu em meu quarto. Estava até que feliz quando alguém bate na janela. Eu abro e:
–Aê cara, nem foi pra escola, mó boroca. Amanhã festa do soldadinho!
Isso porque eu queria dormir...
PRÓXIMO CAPÍTULO: Feridas são fechadas com Vodka.
E desculpem a falta de imagens ilustrativas dessa vez.